Temos vindo a perceber que a mobilidade das crianças e jovens está cada vez mais dependente dos pais (ou outros familiares) e da utilização de carro. Esta realidade começou por ser evidente para as crianças em idade pré-escolar, mas tem-se estendido a todos os ciclos de ensino.

Para o nosso território, esta forte dependência do automóvel cria desafios significativos à sua gestão, sobretudo num contexto em que é imperioso promover uma maior sustentabilidade dos transportes e a sua descarbonização. Não é por acaso que temos a capacidade de reconhecer diferenças no tráfego rodoviário quando estamos (ou não) em período escolar.

Sabemos que, ao aumentar a sensibilização da comunidade e ao desenvolver habilidades em mobilidade sustentável independente, estaremos a contribuir para mais segurança e conforto no trânsito. Para além disso, menos tráfego de carros em redor dos estabelecimentos escolares aumenta a segurança de todos.

Nos objetivos estratégicos definidos pelo atual Executivo Municipal procura-se, de uma forma integrada, dar resposta às preocupações relacionadas com a transição climática, autonomia, promoção de estilos vida saudáveis e mobilidade sustentável, tendo já vindo a ser implementadas diversas medidas conducentes a este propósito.

Com a obra de requalificação da Vila de Soure, ao abrigo do Plano de Ação de Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS), que visou a intervenção do eixo urbano E342, tornando-o um canal multifuncional, adaptado a usos cicláveis e pedonais, mantendo a circulação rodoviária, foi dado o primeiro passo para uma mobilidade efetivamente mais “verde”.

No final do ano de 2023, o Município de Soure promoveu um estudo direcionado à mobilidade dos alunos que frequentam a rede escolar pública do Concelho, cujos resultados serviram de base para o desenho de um projeto de intervenção para uma mobilidade escolar mais autónoma e sustentável.

Uma das prioridades que se apresentou de forma clara para intervenção consiste no desenvolvimento de soluções que fomentem uma mobilidade sustentável (sem emissões de carbono) e promovam a autonomia/independência das crianças e jovens, combatendo simultaneamente o sedentarismo.

Os resultados do Estudo realizada, bem como a Estratégia Municipal para a Mobilidade Escolar Sustentável e algumas das suas medidas, sustentadas por uma perspetiva “territorial de proximidade”, foram apresentadas publicamente no I Encontro sobre Mobilidade Escolar Sustentável, promovido pelo Município de Soure, que visou debater a mobilidade escolar local e como torná-la adequada para as crianças, jovens e famílias do Concelho.

Esta estratégia assenta na sensibilização da comunidade, nomeadamente através da dinamização de sessões sobre economia circular/sustentabilidade e de ações de educação e prevenção rodoviária, bem como da promoção da autonomia das crianças e jovens através do empoderamento de competências e da criação de condições que lhes possam gerar mais confiança e segurança (a eles e aos seus cuidadores) para a prática de uma mobilidade “mais amiga do ambiente”.

Destacam-se:

• BOLEIA HUMANA

No âmbito do Grupo de Trabalho “Cidades Educadoras”, da CIM Região de Coimbra e que o Município de Soure coordena, surgiu a ideia de lançar o desafio aos 19 Municípios membros para a implementação da atividade “Boleia Humana”.

A ideia surge da consciência de que existem inúmeros obstáculos à livre deslocação das crianças no espaço público. Para além das barreiras físicas criadas pela envolvente rodoviária, os trajetos casa-escola são percecionados pela comunidade como inseguros e pouco adaptados à utilização de modos de deslocação mais suaves e saudáveis, como andar a pé ou de bicicleta.

A atividade “Boleia Humana” visa promover a mobilidade segura das crianças/jovens no seu trajeto para as escolas. Pretende-se com esta ação de sensibilização, analisar e repensar o espaço público e a sua utilização à volta da escola e nos trajetos casa-escola, na perspetiva de aumentar a mobilidade e acessibilidade das crianças assim como promover modos de deslocação mais saudáveis.

• ACP KIDS

Procurando criar condições que contribuam para aumentar a mobilidade e acessibilidade das crianças de forma autónoma e com segurança, o Município aderiu ao “ACP Kids”.

Este é programa de educação rodoviária do Automóvel Club de Portugal, dirigido a crianças dos 3 anos 9 anos de idade. Mais do que ensinar normas do Código da Estrada, este programa pretende incutir regras de segurança rodoviária nos mais novos, tornando-os “embaixadores” das boas práticas a adotar.

São abordados vários conceitos de forma prática e pedagógica, nomeadamente como atravessar a rua (com e sem passadeira), como circular na via pública, como circular de bicicleta, como andar de automóvel e colocar corretamente o cinto de segurança, como utilizar colete refletor e respeitar a sinalética na estrada.

• OLH’A BICLA

Numa iniciativa própria e inovadora, o Município avançou para a implementação de um projeto piloto de promoção e incentivo do “aprender a andar de bicicleta” no ensino pré-escolar, que se encontra a ser implementado nos Jardins de Infância de Soure e Vinha da Rainha.

Neste âmbito, foram adquiridos capacetes, bicicletas (de vários níveis de aprendizagem) e uma bicicleta própria para crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE), tendo sido ministrada uma formação para desenvolvimento desta atividade.

A introdução da bicicleta desde tenra idade permite o desenvolvimento de competências relacionadas com a coordenação motora, concentração, postura e autonomia. A bicicleta permite ainda uma deslocação rápida, económica e livre de emissões de carbono (totalmente ecológica), proporcionando a prática de atividade física.

Este projeto piloto funciona em simultâneo com outras atividades, pretendendo-se futuramente alargar a outros estabelecimentos escolares do Concelho.

O desenvolvimento destas ações insere-se nas políticas educativas municipais, que têm refletido o incentivo à alteração de comportamentos e a adoção de hábitos mais sustentáveis e amigos do ambiente, procurando igualmente prevenir fatores associados ao sedentarismo à e da falta de autonomia, contribuindo para a adoção de estilos de vida saudáveis, bem como a promoção da saúde física e mental e do bem-estar social.